Ex-presidente da República Democrática do Congo Joseph Kabila retorna ao país para apoiar o grupo rebelde M23

Por Marcus Paiva
Jornalista e Editor-Chefe

🚩 O ex-presidente Joseph Kabila fez na quinta-feira sua primeira aparição desde que retornou à República Democrática do Congo em Goma, capital da província de Kivu Norte, controlada pelo grupo rebelde M23, apoiado por Ruanda. Pondo fim a dias de especulação sobre seu retorno, a aparição de Kabila acontece apesar do ex-presidente enfrentar a possibilidade de um julgamento por traição por seu apoio ao M23. Felix Tshisekedi, seu sucessor como presidente, acusa Kabila de ser o cérebro por trás do grupo armado, que tomou grandes áreas do leste congolês rico em recursos estratégicos com a ajuda de Ruanda. Embora Kabila tenha deixado a República Democrática do Congo em 2023, o antigo líder ainda tem influência na vida política congolesa e criticou o governo de seu sucessor como uma “ditadura”.
1️⃣ Kabila se encontrou com figuras religiosas locais na presença do porta-voz do M23, Lawrence Kanyuka. Ele não fez nenhuma declaração. Sem a barba habitual e vestido com um terno escuro, o homem de 53 anos, que liderou o país entre 2001 e 2009, apareceu sorridente e visivelmente relaxado diante das câmeras. O acesso à residência era vigiado por combatentes do M23 e membros de seu serviço de segurança. Um membro da comitiva de Kabila disse à AFP que, embora nenhuma aliança formal tenha sido negociada entre seu partido e o M23, ambos compartilhavam o “mesmo objetivo” de acabar com o governo de Tshisekedi. A visita de Kabila também ocorre depois que o partido no poder o alertou para ficar fora dos assuntos congoleses, com a República Democrática do Congo envolvida em negociações com os Estados Unidos e Ruanda visando acabar com a mais recente guerra civil.
2️⃣ De acordo com sua comitiva, Kabila planeja consultar líderes tradicionais e figuras da sociedade civil nos próximos dias, antes de fazer um discurso. “Seu desejo é que a paz seja restaurada”, disse o bispo Joel Amurani à AFP após as conversas com Kabila. Por mais de três décadas, o leste da República Democrática do Congo tem sido devastado por conflitos entre vários grupos armados, que se intensificaram desde o ressurgimento do M23 em 2021. Após uma ofensiva relâmpago, o grupo armado capturou as principais cidades das províncias de Kivu Norte e Kivu Sul, Goma e Bukavu, no início de 2025, estabelecendo-se para governar a longo prazo nas regiões sob seu controle. Enquanto ele estava fora do país, a comitiva de Kabila manteve segredo sobre seu paradeiro. Em abril, o ex-presidente causou surpresa ao anunciar seu retorno iminente ao país via leste, atingido pelo conflito, grande parte do qual está sob o controle do M23. Nenhuma evidência concreta de sua presença surgiu.

3️⃣ No entanto, após o anúncio, as autoridades congolesas suspenderam seu partido e invadiram diversas propriedades que lhe pertenciam. Acusando-o de conspirar com a milícia apoiada por Ruanda, o Ministério da Justiça encaminhou o caso contra Kabila aos tribunais militares. O principal promotor do exército pediu ao Senado que levantasse sua imunidade como senador vitalício, para permitir seu processo por traição, crimes de guerra e crimes contra a humanidade. A votação foi aprovada em 22 de maio na câmara alta, onde a coalizão governista de Tshisekedi desfruta de uma maioria esmagadora, abrindo caminho para seu processo. O Senado da República Democrática do Congo votou esmagadoramente a favor do levantamento da imunidade de Kabila. Em votação secreta na noite de quinta-feira, o parlamento votou por 88 votos a cinco para responsabilizar Kabila. O exército disse no início deste mês que Kinshasa havia reunido evidências claras que o implicavam em “traição, crimes de guerra, crimes contra a humanidade e participação em um movimento insurrecional”.
4️⃣ Em um discurso ao povo congolês, Kabila, que assumiu o poder após o assassinato de seu pai Laurent-Deésiré Kabila em 2001, acusou Tshisekedi de má governança e “tirania”. Em grande parte, o caso do promotor do exército contra ele depende do depoimento da figura da oposição Eric Nkuba. Sob interrogatório, Nkuba alegou ter ouvido Kabila aconselhar o líder do M23 a remover Tshisekedi por meio de golpe e não de assassinato. Dada a gravidade das acusações contra ele, Kabila pode até enfrentar a pena de morte. A República Democrática do Congo suspendeu a moratória sobre a pena de morte em 2024, embora nenhuma execução tenha sido realizada até o momento. Kabila, que nega qualquer vínculo com o grupo rebelde, renunciou ao poder em 2018, após quase 20 anos, cedendo aos protestos. No entanto, ele gozava de imunidade judicial graças ao título honorário de senador vitalício. E agora essa imunidade foi retirada pelo senado graças ao pedido do procurador-geral do exército.

5️⃣ Enquanto isso, Tshisekedi suspendeu o Partido Popular para Reconstrução e Democracia (PPRD) de Kabila e as forças de segurança invadiram várias propriedades do antigo líder. O vice-secretário-geral do PPRD, Ferdinand Kambere, disse à agência de notícias AFP que o processo contra Kabila é puro "teatro" para distrair o povo congolês dos debates sobre o conflito e a corrupção no país. O retorno de Kabila ao país poderia complicar a tentativa de pôr fim à guerra civil. Apesar do exército da República Democrática do Congo e o M23 terem concordado em trabalhar por uma trégua em maio, os combates continuam na província oriental de Kivu do Sul. As tensões de longa data no leste da República Democrática do Congo se transformaram em conflito em janeiro, quando o M23 capturou a cidade de Goma, seguida pela tomada de Bukavu em fevereiro, controlando de fato duas importantes províncias, Kivu Norte e Kivu Sul. O grupo busca o controle da vasta riqueza mineral nas áreas orientais e tem ambições de tomar o poder em Kinshasa.

6️⃣ O ex-presidente Presidente Joseeph Kabila, criticou "o colapso das instituições" e do país, lamentando que "o Congo esteja gravemente doente", e acusa do Governo de ter "substituído" o Exército nacional "por bandos mercenários, milícias tribais e forças armadas estrangeiras", "abrindo assim a porta à regionalização do conflito", com o M23. Nas redes sociais, Lawrence Kanyuka, porta-voz da Aliança Rio Congo (AFC), que inclui o M23, declarou que "o antigo Presidente da República Democrática do Congo, Joseph Kabila, chegou à cidade de Goma", acrescentando: "Desejamos-lhe uma estadia agradável nas áreas libertadas". Também o líder da AFC, Corneille Nangaa, escreveu nas redes sociais que Kabila "é bem-vindo na única parte do país onde não há arbitrariedade, perseguição política e sentenças de morte". A ida de Kabila a Goma coloca incertezas no futuro político do país. Fica claro que Kabila tem planos muito concretos. Ele Gostaria de recuperar o poder pela força e vai usar o M23 para derrubar Tshisekedi.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

🇹🇭🇰🇭 A crise entre Tailândia e Camboja persiste, e o incidente na fronteira será submetido à Corte Internacional de Justiça

Eleição no Equador termina em empate técnico e vai ser decidida no segundo turno

Musk propõe novo partido e entra em guerra com Donald Trump