Começou uma nova escalada de crise entre Índia e Paquistão
Por Marcus Paiva
Jornalista e Editor-Chefe
🚩 A Frente de Resistência Lashkar e Toiba realizou um ataque a tiros em uma área turística em Pahalgam, na Caxemira controlada pela Índia. 28 civis foram mortos e 20 ficaram feridos. Um dia após esse ataque mortal a Índia anunciou que estava fechando a fronteira com o Paquistão, rebaixando seus laços diplomáticos e suspendendo um tratado crucial sobre a água. O Tratado das Águas do Indo estabelece como a Índia e o Paquistão utilizam a água de seis rios que atravessam ambos os países. Ele foi negociado pelo Banco Mundial em 1960 e afeta centenas de milhões de pessoas em ambos os lados da fronteira. Após uma reunião, o governo indiano, liderado pelo primeiro-ministro Narendra Modi, acusou o Paquistão de apoiar os militantes que realizaram o ataque de Pahalgam. Modi rompeu acordos e colocou as Forças Armadas indianas em alerta máximo ao longo da fronteira paquistanesa iniciando uma escalada de crise.
1️⃣ O secretário de Relações Exteriores da Índia, Vikram Misri, disse a repórteres na noite de terça-feira que o tratado permanecerá suspenso até que o Paquistão "renuncie de forma crível e irrevogável ao seu apoio ao terr0rismo transfronteiriço". Ele acrescentou que nenhum cidadão paquistanês poderá mais entrar na Índia sob um programa especial de visto e pediu aos portadores de tais vistos na Índia que deixem o país em até 48 horas. Os conselheiros militares paquistaneses que servem no alto comissariado do país em Nova Déli têm uma semana para deixar a Índia. Misri afirmou que a Índia também retirará seus diplomatas de Islamabad. Essas decisões, afirmou ele, foram tomadas em uma reunião presidida pelo primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, que interrompeu uma visita à Arábia Saudita para retornar à Índia após a notícia do ataque de terça-feira.
2️⃣ O anúncio de Misri foi feito horas depois de o ministro da Defesa do Paquistão, Khawaja Asif, negar o envolvimento paquistanês no ataque de terça-feira. "Este é o resultado de um governo Hindutva [nacionalista hindu] que explora e mata minorias religiosas, incluindo cristãos e budistas", disse Asif a um canal de notícias paquistanês. Os agressores, disse ele, eram "rebeldes locais" da Índia. O primeiro-ministro do Paquistão, Shahbaz Sharif, convocou uma reunião do Conselho de Segurança Nacional para abordar a situação na manhã de quinta-feira. A Índia há muito acusa seu vizinho ocidental de incitar e patrocinar a militância armada na Caxemira administrada pela Índia, acusações que o Paquistão nega. A região da Caxemira, de maioria muçulmana, é disputada entre a Índia e o Paquistão desde que se tornaram nações independentes em 1947. Cada país reivindica a Caxemira em sua totalidade. Eles já travaram três guerras por ela. O Paquistão controla uma porção menor da região, conhecida como Caxemira Azad.
3️⃣ O ataque de terça-feira contra civis indianos está sendo considerado o pior desde que homens armados invadiram as ruas de Mumbai em 2008 e mataram mais de 160 pessoas. Investigações indianas posteriores alegaram que os agressores eram treinados no Paquistão. O discurso feito pelo chefe do exército paquistanês, general Asim Munir, na semana passada, reiterando apoio à luta dos caxemires contra o que ele chamou de "ocupação indiana" piorou a crise diplomática. Milhares de civis e militares indianos foram mortos na Caxemira desde que a militância armada se consolidou no início da década de 1990. Em 2019, o Parlamento indiano aprovou uma lei que revogou a autonomia administrativa da região, que muitos membros do partido Bharatiya Janata, no poder, culpavam pela violência que abalou o vale do Himalaia. Durante meses, as comunicações móveis e pela internet foram bloqueadas, a circulação de caxemires foi restringida e políticos locais foram detidos em prisões ou em suas próprias residências.
4️⃣ Nos anos que se seguiram à repressão, houve uma queda drástica no número de ataques violentos. Mas, nos últimos anos, os ataques aumentaram , frequentemente visando trabalhadores migrantes indianos de fora da Caxemira. Assim como no ataque de Pahalgam, a maioria das vítimas eram hindus. No ataque de terça-feira, um grupo militante pouco conhecido chamado Resistência da Caxemira assumiu a responsabilidade. Em uma publicação no Telegram, o grupo afirmou que o ataque foi uma retaliação às "mudanças demográficas" observadas no vale desde 2019. Após o ataque, líderes como o presidente Trump expressaram apoio à Índia, com o presidente estadunidese publicando no Truth Social que a Índia tinha seu "total apoio". Nos canais de notícias de direita da Índia, há apelos por ataques retaliatórios contra o Paquistão. O chauvinismo em torno dos ataques eclipsa as falhas políticas e de segurança. O fato de a Caxemira ser um território disputado entre a Índia e o Paquistão é bem conhecido. O Paquistão tem fornecido muito apoio, incluindo treinamento, a militantes armados que operam na Caxemira. Mas o foco no Paquistão não pode obscurecer as questões de responsabilização do establishment indiano, incluindo a liderança política indiana, por não terem conseguido manter um grande número de indianos seguros na Caxemira.
Comentários
Postar um comentário