Primeiro-ministro da Índia Narendra Modi reforçou o Nacionalismo Hindu com a construção de um templo
Por Marcus Paiva
Jornalista e Editor-Chefe
🚩 O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, inaugurou em janeiro de 2024 um grande templo ao deus hindu Rama, uma obra que dividiu grupos religiosos no país e despertou críticas de políticos de oposição. Esse não foi mais um templo. O templo — é chamado de "Vaticano hindu" por líderes nacionalistas hindus. Ram Mandir é um dos maiores templos da Índia, e foi construído em Ayodhya, Uttar Pradesh, Índia. Ele está localizado no local de Ram Janmabhoomi, o suposto local de nascimento de Rama, uma das principais divindades do hinduísmo. A grande questão é que ele foi construído encima de onde ficava uma mesquita, Babri Masjid, do século XVI. Atacada e demolida em 1992. Em 2019, o Supremo Tribunal da Índia emitiu o veredito para dar o terreno em disputa aos hindus para a construção de um templo. O tribunal referiu-se a um relatório do Serviço Arqueológico da Índia (ASI) como prova que sugere a presença de uma estrutura por baixo da demolida Babri Masjid, que foi considerada não islâmica.
1️⃣ A construção do templo ao deus hindu Rama em Ayodhya cumpre uma promessa de Modi feita a nacionalistas hindus. Na década de 1990, o movimento para construir o templo ajudou a impulsionar o partido nacionalista BJP, de Modi, na cena política nacional. Antes do movimento, o partido tinha pouca expressão nacional. Em seu discurso inalgural, Modi disse que o templo sinaliza "uma nova era" para a Índia. "Uma nação que se levanta quebrando a mentalidade da escravidão cria assim uma nova história". Segundo ele: "22 de janeiro de 2024 não é apenas uma data no calendário, mas anuncia o advento de uma nova era. São as bênçãos supremas de Ram que estamos testemunhando." A construção do templo marca o cumprimento de uma promessa feita pelo BJP e sinaliza um alinhamento forte do governo com os hindus, que representam a maior religião do país.
2️⃣ No entanto, alguns líderes espirituais hindus e a maior parte da oposição boicotaram a inauguração do templo, dizendo que Modi utilizou o evento para ganhos políticos. Eles dizem que o partido de Modi usa o templo para conseguir votos nas eleições, já que 80% da população do país é hindu. Os críticos também acusam o governo de explorar uma celebração religiosa em um país que — segundo sua constituição — é secular. Para os muçulmanos, a maior minoria da Índia, o evento evocou medo e memórias dolorosas. Para alguns críticos, Modi está subindo o tom do nacionalismo hindu para reforçar seu poder político — o que é visto com receio por outras minorias religiosas. Em 1992, uma multidão de hindus nacionalistas derrubaram a mesquita Babri, alegando que ela tinha sido construída por invasores muçulmanos sobre as ruínas de um templo de Rama. Houve protestos em todo o país e quase 2 mil pessoas morreram.
3️⃣ A disputa entre hindus e muçulmanos pela propriedade do local foi encerrada em 2019, quando a Suprema Corte concedeu o local aos hindus, apesar de afirmar claramente que a demolição da mesquita foi uma "violação flagrante do estado de direito". O tribunal concedeu aos muçulmanos outro terreno em Ayodhya, para que construíssem uma mesquita. Modi inaugurou o templo de Ayodhya meses antes das eleições gerais na Índia, com seu partido BJP de olho em um terceiro mandato consecutivo recorde. Ele disse que o novo templo unificaria a nação. Porém, a vitória do partido BJP não foi o que Modi esperava, pois apesar de se manter como primeiro-ministro, ele não conseguiu a maioria esmagadora como prévia. O ministro Rajnath Singh acredita que o santuário marcará "o início do renascimento cultural da Índia e restaurará o orgulho nacional".
4️⃣ Críticos dizem que o momento da abertura está mais relacionado a estratégia política do que ao significado religioso, com a criação de um momento nacionalista hindu. E relembram que o movimento para construir um templo foi um fator importante para impulsionar o BJP a uma posição de destaque na política indiana. O novo templo é o mais grandioso possível. Estendendo-se ao longo de 2,9 hectares em um complexo de 28 hectares, a imponente estrutura de três andares, revestida de arenito rosa e ancorada por granito preto, possui pilares imponentes e descansa sobre 6.503m² de mármore branco intocado. Uma imagem de Rama de cerca de 1,30 metro será colocada em um pedestal de mármore. O governo de Modi está empenhado em transformar Ayodhya, uma tranquila cidade de peregrinação às margens de Saryu, um afluente do Ganges, no que as autoridades chamam de "cidade de nível internacional, onde as pessoas vêm como peregrinos e turistas".
5️⃣ A reforma de US$ 3,85 bilhões inclui expansão de estradas, um novo aeroporto, uma enorme estação ferroviária e um estacionamento de vários andares. Mais de 3 mil casas, lojas e "estruturas de natureza religiosa" foram total ou parcialmente demolidas para facilitar o alargamento de quatro estradas principais, incluindo a recém-batizada Ram Path, de 13 km, que leva ao templo. Uma tinta amarela clara agora dá aos edifícios uma aparência uniforme. Redes de hotéis como Radisson e Taj estão construindo novas propriedades; 50 novos hotéis e casas de família fazem parte do projeto, e dezenas de pousadas estão sendo renovadas. Não surpreende que os preços das terras já tenham triplicado. "Você não consegue reconhecer o local, mudou muito. Há, na verdade, um misto de choque e admiração por tudo isso que aconteceu", disse Valay Singh, autor de Ayodhya: City of Faith, City of Discord. Há também planos para atrações adicionais em torno do novo templo, incluindo uma caminhada sinalizada por 162 murais retratando a vida de Ram, uma instalação em uma ilha do rio Saryu que oferece "vista da civilização védica" e a criação de uma cidade do casamento e o desenvolvimento do lugar como um centro de naturopatia.
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